sábado, 23 de março de 2013

Em quanto tempo?



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Desde que comecei a correr esta é a frase que mais escuto após cada prova:
-Em quanto tempo você completou?
Embora isto tenha me preocupado no começo, logo percebi que não tinha nem idade, nem biótipo, nem peso para ficar correndo que nem louca e me conformei a correr o que posso porque eu adoro este esporte.
A corrida me proporciona momentos de introspecção, de reflexão e também de intenso prazer.
Na academia, nos dias de treino, assisto a filmes, vejo reportagens, ouço e vejo clipes que provavelmente eu não veria se estivesse no sofá da sala.
Na rua, nos parques e nas provas prefiro correr sem música porque adoro escutar o som da natureza ou do entorno.
Entretanto é fatal perceber o quanto este tal tempo é de importância capital para a maioria dos meus amigos corredores.
Tão importante que tem gente que desiste porque não consegue correr “naquele” tempo que corria há 10 anos atrás, ou que não consegue correr de modo competitivo.
Uma pena porque correr é bom em qualquer velocidade.
Aliás o mundo moderno já é uma corrida contra o tempo.
O trânsito, as filas de supermercado, de banco, de cinema, etc.
O que vivemos no dia-a-dia é sempre correr.
Quem de nós não gostaria de mais umas 6 horas por dia, para fazer tudo o que não conseguimos em um dia normal?
Poderíamos ler mais, estudar mais, trabalhar mais (isto não!!!) e correr mais, ou melhor correr menos com as nossas obrigações para nos sobrar mais tempo para o prazer das corridas esportivas.
Para que então esta corrida louca se nem vamos ganhar coisa alguma? Nenhum de nós vai disputar o primeiro lugar. Para que corrermos que nem malucos para acabar com nossas articulações? Só ouço falar de lesões. Como se fossem absolutamente normais.
Não são! Tenho certeza que se as pessoas corressem no seu limite não se machucariam tanto.
E que graça teria? Eu acho que teria a graça de passarmos anos a fio correndo, sem lesões, sem dores, sem problemas. Eu nunca tive nenhum problema.
Cai uma vez somente e porque já estava no meu 15º quilometro e cansada.
Penso que poderíamos deixar esta rapidez toda para os profissionais.
Estou sozinha nesta reflexão.
Fui rejeitada por dois anos consecutivos na academia que frequento, para a prova de revezamento Pão de Açúcar,porque não corria o que era preciso para fazer parte da equipe.
Mas nem 9km por hora?? Pelo menos?? Oras , Edna mas a turma corre pelo menos 10km por hora..
Ah, então tá! Não posso participar.  Assim, fui sozinha. E graças a esta rejeição acabei fazendo a minha segunda meia maratona, porque não consegui entrar em nenhum grupo.
Depois da prova, passei na tenda e descobri que havia faltado gente para completar os grupos.
Enfim, uma prova que era para ser um lazer e unir as pessoas acabou desunindo pela crença do quanto mais rápido melhor.
Eu não entendo.Vou morrer sem entender.
Talvez entendesse se tivesse como competir.
Como não posso, vou correndo meus 8 ou 8,5km por hora e pronto!
O importante é que não vou parar e aos 80 anos estarei ainda correndo.
Só espero que meus amigos corredores de hoje possam estar comigo lá na frente e que com o passar dos anos eles possam me acompanhar e correr com menos velocidade.
E que todos nós possamos continuar correndo até o fim, com o mínimo de lesões possíveis.
 Edna Brissa é médica e atleta. Seu depoimento reflete bem a realidade que precisamos vivenciar. A atividade física pelo prazer e bem-estar não pode ser confundida com a do atleta. Ele busca a vitória em competições, recordes e que, em função dos patrocinadores, precisa obter sempre marcas mais significativas e melhores. 

O praticante amador tem apenas que continuar. E, ao praticar exercícios, "ouvir" o que diz o seu corpo aos esforços. O único "desafio", se é que há de haver, para nos estimular, é estar igual a ontem. Se possível, melhor.

 

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